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16.3.09

Os vapores das linhas de África - 2: a C.C.N. 

A Companhia Colonial de Navegação (C.C.N.) foi, porventura, a mais importante iniciativa de capitais privados transversal a todo o terceiro império colonial português (1875-1974) em África.
No final da Primeira Guerra Mundial, em 1918, a frota de comércio portuguesa estava praticamente inoperacional, sendo constituída, apenas, por 11 unidades obsoletas cuja arqueação bruta global não chegava às 50.000 toneladas.
Era uma situação paradoxal, uma vez que que a demanda do movimento comercial entre as colónias portuguesas e a sua metrópole se encontrava em franco desenvolvimento. As empresas coloniais defrontavam-se com enormes dificuldades em conseguir escoar as suas produções e algumas resolveram adquirir navios que lhes assegurassem esse escoamento.
A então muito próspera Sociedade Agrícola da Ganda, sediada em Angola, adquiriu em 1920 o cargueiro britânico "General Allenby" que rebaptizou de "Ganda" e a firma Ed. Guedes, Lda, com sede na Guiné, comprou à armadora sueca Johnson Line o navio de passageiros "La Plata" que fez rebaptizar como "Guiné".

O Guiné, devidamente engalanado, na sua viagem inaugural.

Em 3 de Julho de 1922 estas duas empresas, associadas a uma terceira empresa colonial, a Companhia do Amboim, fundam uma companhia de transportes marítimos à qual foi dado o nome de Companhia Colonial de Navegação, que havia de ficar conhecida nos meios marítimos pelas iniciais C.C.N.
A terceira unidade da novel companhia de transportes marítimos seria o cargueiro "Porto Alexandre", adquirida à armadora Transportes Marítimos do Estado em consequência da liquidação daquele empresa estatal portuguesa, tendo sido rebaptizado de "Lobito", nome da cidade angolana onde a C.C.N. foi inicialmente sediada. Em 1925 integraram a frota outros três vapores também provenientes da liquidação da T.M.E.: um navio de passageiros que recebeu o nome de "Amboim" e dois cargueiros que passaram a chamar-se "Benguela" e "Bissau".


Em 1925 a C.C.N. possuía já dois paquetes e quatro navios de carga cujos portes brutos totalizavam perto de 30.000 toneladas. No final desse ano, juntar-se-iam, ainda, mais 2 navios: o cargueiro "Cassequel" e o navio de passageiros "Loanda" (ver post anterior) e em 1928 o "João Belo", porventura o primeiro paquete português digno desse nome.

O João Belo, o primeiro verdadeiro paquete português.

Até ao final da década de 20 foram comprados mais 7 navios: os cargueiros "Malange", "Pungue", "Sena" e "Ganda" (2º) e os paquetes gémeos "Mouzinho" e "Colonial", bem como, ainda, o "Guiné" (2º).

O paquete Mouzinho zarpando de Lisboa rumo à África Oriental Portuguesa.

O paquete Serpa Pinto com o casco pintado assinalando a neutralidade de Portugal na 2.ª Guerra Mundial.

Só em 1940 a C.C.N. volta a reforçar a sua frota, adquirindo o paquete "Serpa Pinto". Nessa década, ainda em plena Segunda Guerra Mundial, adquirem-se os cargueiros "Luango", "Micondo", "Lugela", "Huambo", "Bailundo" e "Buzi", todos em segunda mão.
Conquanto Portugal se mantivesse neutro durante a Segunda Guerra Mundial e os seus navios se encontrassem bem identificados, com grandes bandeiras nacionais pintadas nos costados e a palavra Portugal, bem visível, pintada a branco nos cascos negros, tal não obstou a que, em 1941, O "Cassequel" e o segundo "Ganda" fossem torpedeados e afundados por submarinos alemães.

O Colonial ao atracar em Lisboa após mais uma perigosa travessia do Atlântico, em plena guerra.

Após a guerra, por intervenção estatal – sendo Ministro da Marinha um tal de Capitão-de-mar-e-guerra Américo de Deus Rodrigues Thomaz – procedeu-se à reorganização e renovação da marinha de comércio portuguesa.
Na segunda metade da década de 40 a Colonial adquire os paquetes "Pátria", "Império", "Vera Cruz" e "Santa Maria" (todos, ainda, propulsionados por turbinas a vapor) e o “Uíge" (o seu primeiro paquete accionado por motor diesel).

O Uíge, o primeiro paquete da C.N.N. com propulsão exclusivamente alimentada a diesel.

Nesse mesmo período adquire os cargueiros "Benguela", "Ganda" (o 3.º com o mesmo nome), "Amboim", "Luanda", “Sena" e os gémeos "Chaimite" e "Nampula", todos com propulsão a diesel. Estes três últimos, mais pequenos, foram destinados exclusivamente à cabotagem na costa da colónia de Moçambique.

O 3.º e derradeiro Ganda, de 1946, nome que tinha sido dado ao 1.º navio a integrar a frota da C.N.N., em 1922.

Em 1947 a C.C.N. compraria em segunda mão, nos Estados Unidos, três pequenos cargueiros a vapor, construídos dentro dos programas do tempo da guerra, que rebaptizou de "Lunda", "Pebane" e "Quionga".

10.3.09

Os vapores das linhas de África – 1: o «Loanda». 

O vapor Loanda da Companhia Colonial de Navegação começou por ser baptizado de Wurzburg em 1901, quando foi lançado à água no porto de Bremen, mandado construir pela armadora alemã Nord Deutscher Loyd (NDL).
Com o desenho de prancha convencional da época, ou seja, superestrutura central de dois conveses, única chaminé, dois mastros, seis porões de carga, distribuídos à popa (ré) e à proa (frente) possuía motor a vapor de tríplice expansão com acoplamento a um único hélice e modestas acomodações para apenas 30 passageiros em segunda classe e um milhar em steerage, ou seja, nos porões. Poder-se-ia dizer, portanto, que acomodava 1030 passageiro, sendo a noção de comodidade ali muito relativa.
De facto, os porões destinavam-se primariamente a carga e foi nessas funções que cumpriu os seus primeriros anos, rumando aos portos da América do Sul, nomeadamente Santos, onde carregava sobretudo café.
Em 1914, ao eclodir da I Guerra Mundial, encontrava-se em pleno Atlântico Central, ao largo de Cabo Verde. A 29 de Julho de 1914 o governo alemão enviara por TSF instruções a todos os navios civis alemães para regressarem de imediato à Alemanha ou demandarem portos neutros. Uma vez que Portugal ainda não se envolvera no conflito, o Wurzburg acolheu-se, em 3 de Agosto, no porto do Mindelo (São Vicente).
Entre Fevereiro e Março de 1916, ao envolver-se no conflito, Portugal toma posse de todos os quase 70 navios alemães que se tinham acolhido nos seus portos, entre eles o Wurzburg que é então re-baptizado de São Vicente e entregue à gestão da armadora estatal Transportadora Marítima do Estado (TEM).
No ano seguinte, em 1917, foi arrendado ao governo britânico para ser utilizado numa variedade de rotas ligadas às operações de guerra em curso, sobretudo no Mediterrâneo Oriental.
Findo o conflito, em Novembro de 1918, o vapor português São Vicente foi subfretado às autoridades francesas para repatriar tropas, permanecendo nessa função até Outubro de 1920, quando foi devolvido a Portugal, à TME. Estava praticamente inoperacional, desgastado pelo uso e precária manutenção.
A partir de 1921 o São Vicente iniciou, após as devidas reparações, o serviço de passageiros da TME entre Lisboa e Nova Iorque, via escala nos Açores. Permaneceu nessa carreira até 1925, quando foi vendido à Companhia Colonial de Navegação, que lhe deu o nome de Loanda.
Com outros vapores da CCN, como o Amboim, o Guiné e o João Belo, passou a assegurar as linhas de África.
Manteve-se nesse serviço até 1937, ano em que a Companhia Colonial de Navegação começou a substituir os seus vapores por navios com outra motricidade, com maior viabilidade económica e mais rápidos.
No início de 1938 foi vendido a uma sucateira italiana, que o fez desmantelar no porto de Génova.

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